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Ei, você! Sim, você mesmo, anão.
Lembra-se de mim? Não? Que pena. Eu me lembro de você.
Não pense que me ofendi com a sua falta de afeto por mim. Eu provavelmente nunca o ajudei diretamente. Mas preste atenção: você é muito importante para mim. Eu vou sempre estar lá quando você precisar de mim, porque eu sei que às vezes você precisa de um consolo, mesmo que ele seja inútil em termos práticos.
Eu sou seu cobertor quentinho com estampa de bichinho, sou a sua cueca mais confortável, sou a camiseta velha, manchada e macia que você veste quando vai dormir. Sou a internet de antigamente, sou um anão que concorda com você quando você diz que o Caralivro tomou conta de tudo, sou o velho câncer com rosto e nome. Sou a Emiru, o Adoniran, o xixizinhofag. Sou a Marco Tulio e até a Manii Paulista. Sou sua mãe, sou seu pai, sou o vovô e a vovó. Sou o violão velho que você tem até hoje, sou a gaita que o acompanha, sou a chuva que bate na sua janela e a neblina que torna as formas duras do mundo um pouco mais amenas. Sou aquela garota tímida e meio esquisitinha que tirou seu BV, e que até gostaria de transar com você, mas que você não profitou porque nunca percebeu o quanto ela gostava de você. Sou uma tarde fria de domingo, uma xícara de café e um livro bom. Sou um terninho novo de boa qualidade. Sou uma jaqueta de couro carcomida que você pegou emprestada do seu pai quando tinha 16 anos e fica grande em você até hoje, apesar de você ter ficado maior do que o velho. Sou o amigo que te consola naquelas horas, ou a irmã mais velha que te escuta choramingar e te apoia.
Eu sou o espírito das coisas que passam, sou a lembrança amarelada e saudosa, sou a melancolia plácida que toma conta do seu corpo nos momentos de paz celestial e absoluta. Sou a certeza de que todas as coisas passam, mas a marca dessa passagem permanece vívida até o fim da sua vida.
E, por falar em vida, já pensou em melhorar a sua?
Não se preocupe, eu estarei aqui pra te levantar, caso você caia. Você merece isso.